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BOLETIM DO NCH Nº 14, 2005
Susana Goulart Costa
Inventário do Património Imóvel dos Açores
  Inventário do Património Imóvel dos Açores: Praia da Vitória, Terceira
S.l., Direcção Regional de Cultura / Instituto Açoriano de Cultura / Câmara Municipal da Praia da Vitória, 2004
  Susana Goulart Costa – Departamento de História e Filosofia da Universidade dos Açores. Rua da Mãe de Deus. Apartado 1422. 9501-801 Ponta Delgada Codex

Nos últimos anos, o Património Açoriano tem sido objecto de um crescente interesse, manifestado por diversas entidades e instituições com responsabilidades nas mais diversas hierarquias da arquitectura dos poderes públicos e privados. Para que este projecto seja contínuo e profícuo torna-se imprescindível cativar as sociedades locais para a importância dos seus patrimónios, símbolos da memória passada e mensageiros da futura. É neste contexto que se torna relevante salientar o valor de uma publicação dedicada a divulgar os patrimónios imóveis das diversas sociedades, neste caso das comunidades açorianas.

Na colecção patrocinada pela Direcção Regional da Cultura e pelo Instituto Açoriano de Cultura, o sexto volume foi dedicado ao concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, tendo já sido inventariados dez dos dezanove concelhos açorianos. Peça a peça, acompanhamos e reconstruímos o xadrez das vivências praienses onde os elementos autóctones (e eles existem?) se misturam com as interferências e influências de além-mar.

Neste trabalho, o património local, valorizado num mundo cada vez mais globalizante, é entendido como o rosto visível de uma cultura açoriana onde se esculpiram as especificidades da terra e das gentes. Para esta simbiose ser perfeita, a obra espelha a vertente histórica da Praia da Vitória, realçando as componentes do espaço e do tempo. Por isso, não é demais salientar a preocupação em apresentar sumários contextualizantes que convidam o leitor a inteirar-se das características geológicas, geográficas, climáticas, políticas, sociais e económicas e outras especificidades do concelho, cujo povoamento, recorde-se, remonta à segunda metade do século XV, sob a égide de Jácome de Bruges.

Em mais de 320 páginas são, pois, apresentados diversos exemplares do património praiense, cuja descrição obedece a um exigente rigor técnico: a localização dos imóveis, a sua classificação tipológica, a época de construção, o estado de conservação e a respectiva componente utilitária são registados minuciosamente, acompanhados com uma fotografia a cores que oferece ao leitor uma outra sensibilidade em relação ao espécime inventariado.

Entre os 172 imóveis registados, predominam os que se incluem na arquitectura doméstica (63 exemplares), seguidos dos conjuntos edificados (30 exemplares), como é o caso da igreja de São João Baptista e do Império do Espírito Santo da Casa da Ribeira, em Santa Cruz, cuja construção inicial remonta ao século XV ou, mais recentemente, o agrupamento de edifícios de habitação situados na rua 25 de Abril, também em Santa Cruz, edificados no século XX.

Registe-se ainda a arquitectura com características religiosas (22 imóveis), como é o caso da Igreja Matriz de Santa Cruz; civis (11 edifícios), onde destaco a Casa da Roda, em Santa Cruz; e militares (2), como o forte de Santa Catarina, no Cabo da Praia; e as unidades paisagísticas construídas (2), onde saliento as belíssimas pastagens que, no século XIX, começam a tomar forma nas Terras do Paul nos Cinco Picos. De referir ainda as construções com um carácter utilitário (11 exemplares); os aquedutos e pontes (5); as estradas e mirantes (2); alguns elementos pontuais (19), onde se incluem o chafariz do largo da Luz, em Santa Cruz e a estátua comemorativa do primeiro centenário da batalha de 11 de Agosto de 1829, situada no Largo Francisco Ornelas da Câmara; e ainda os 5 vestígios arqueológicos, mormente os dos conventos de São Francisco e de Jesus, ambos datados do século XV.

No que respeita ao estado de conservação de todo este património praiense, observamos que a maioria dos imóveis encontra-se num nível considerado bom (45,9% dos bens) e razoável (38,9%). Apenas 26 edifícios (15,1%) encontram-se em mau estado ou mesmo em ruína. Mas não podemos deixar de questionar se esta estatística não é mais um reflexo da cronologia da construção dos imóveis do que do zelo na manutenção e restauro dos mesmos. Com efeito, 72,6% dos bens classificados foram edificados num tempo mais recente, no decurso dos séculos XIX e XX, enquanto que apenas 27,3% foram construídos entre os séculos XV e XVIII.

A obra oferece, pois, ao leitor a possibilidade de conviver com a riqueza de todo este património, resultado de um esforço comum proveniente de autores anónimos e institucionais, e que traduz a fácil convivência entre edifícios com um traço marcadamente citadino e imóveis com um carácter ruralizante, que sobrevivem à paulatina urbanização dos espaços. Desta forma, as suas páginas tornam-se instrumentos úteis para o desbravar dos segredos que a história guarda e ao homem compete desvendar

Última actualização a 11.07.2007 Voltar ao topo